quinta-feira, 24 de maio de 2012

de fora do trem

Acalma dentro essa pequena
Amena funciona, quem sabe
um riso no canto da boca
Voltando para casa
Sola
Vendo tão pouco o sol
Na porta do peito
O mar estoura suas dúvidas
Que a estrada tem dois sentidos
pelo menos
Ao menos com os pés em um lugar
Cantar uma canção onde tiver cordas
De madrugada
o frio
a febre
a fome
o corinthians
gritando na minha janela
Eu quero aquela, moço
Que ainda não dá pra crer
Eu quero ver
O som da manhã chegando
E não vão ser carros chiando
Será quem sabe
Um leque de possibilidades
Não duas
Uma estrada que ande
para cima, sem placas
Que ir seja tão somente ir
E voltar seja uma pequena vontade
Que guardada em um caixa
não deixe perguntas
Por ser somente saudade.

terça-feira, 22 de maio de 2012

um sopro

Cortei os cabelos de minhas fotos
no vento eles voam fortes
Tirei as pernas para dançar
De todas as cores, cada qual com seu dia
Fez um céu de brilho que é um estouro
Um giro lúcido
E o cotidiano quer tudo cinza
                                    frio
                                    aço
] Não caibo [
Em mim, um soluço contido
Vira um expurgo que funde
passado e frio num comprimido
Que nunca houve tanta primavera
num só outono

E o som
e o sono
Quer trazer pra perto
Pendurar as pernas cansadas da dança
Mas não se cansam
as meias coloridas saltitando no quarto
É um sarro quando me pega
Esse negócio que grita
Quando agita, sacode o pó
e sai pra viver.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

impressão

no Norte
o que dita é  o rio
que grita
na correnteza
um silêncio sombrio.

é tábua
é corpo
é guerra

numa margem a música da vida
na outra margem, também
do céu branco, além dos pássaros
vem o cheiro podre do dinheiro
e suja de sangue o que nunca foi morte.

de agora

Cada desabotôo mostra pele
Um cheiro novo no tato conhecido
De fato
Uma espécie de surpresa
Mistura de óbvio e simples
Que faz que os olhos fotografem
A luz translucidando as torres da Sé
E mesmo aqui
Sem a chave de casa
Sentada no chão
do lado de fora
Faz rir
Mais que frio
Faz o impossível de sampaulo
nào ser solitária
E se aqui não há amor, não sei
Também aqui
Sonhar não me deixa ser só.

em casa

- Chegar do trabalho a essa hora é pra matar qualquer cristão - disse ao companheiro.
- Pois ainda bem que somos ateus, assim nos poupam a navalha do relógio...
Ela sorriu. Arrumou as coisas na sala. Lavou o restante da louça. Foi se deitar.
- ... pra matar qualquer filho da mãe.