sexta-feira, 19 de outubro de 2012

8

A bola-única-oito
o mundo agora e
daqui a pouco
O infinito de pé
rolando pro buraco

ao marinheiro

Vou desabar os ombros
sobre as costas
dessa história mal contada
Um sambatômico, atônito

Foliões em dó menor encheram meu copo
dizendo
Sentaí, diz qual foi a dessa vez
Que nada!

"Meu parceiro deu um nó de marinheiro no peito"

"Se desabotoa, que o sonho é um
 Novo laço imaginando seu fim"

Amarrado firme numa haste de cais
Definitivo
Abandonara o mar
Des-espera a chance de outro sonho
Que não seja um traço em dó

Seja um sol
Desatado
luz estourada, só em sonho
Uma estrela de ressaca
Nas cordas, bambas busco
Um samba-sonho em alto mar.

saudade em asas


Saudade bruta
O tempo passa
o peito espera

mas sabe o teto
se sobe muito
balão estoura

abro um buraco
no céu-concreto
saudade vôa

estampa a vida
a céu aberto
daqui a...gora.



nós.


Que de minhas cordas restem
As vocais vibrando
As erguidas amarrando o mastro à nau
Seguir ventando em direção
à outra ponta
da corda-bamba.

..

Você está intimado a sentar comigo para um café.
Saudade tem limite.

Você está intimado a sentar,  amigo,  para um café.
Saudade, não, tem limite.

Você está intimidado a sentar comigo para um chá.
Saudade tem limite?

Você? Intimado a sentar comigo para um café?
Tudo tem  limite.

Diga lá, camará, se dá pra ser. Pode ser dois duplos sem creme?
Minha saudade é sem limite.
 

alô?


Abro a série com um soco
Sem querer, fica roxo?
Fecho o dia de peito apertado
Mas vai ser mais um
Dia
Vai ser mais uma vez
Que durmo
E amanhã falo alô
Ou dou com a cara na
sua porta
de fibra ótica sonora
Soa "tu tu tu".

Poesia incompleta


Na poesia completa
Não tem lirismo atoa
E tem também
Um pacote de processos
Desobediência civil
Ocupação de prédio público
Desacato à autoridade

Desautorizado da poesia completa
as tempestades de tédio
Serão os melhores poemas
De sangue, de vida,

flor de cactus

Na poesia completa
Ficou incompleta essa linha
Mudou de casa
Saiu com os papéis caindo da bolsa

A antologia incompleta
Deixou um verso livre
Procurando o dono 

prendedor


Quando eu parar
Será debaixo da terra
Quem sabe assim
Um pouco de sossego

Enquanto isso
isso
qual o jeito
a flor em vida
novas palavras
pendurando os dias. 

na concha

olhando adiante
horizonte fotografo
nos olhos cansados
agito de ondas
mergulhamos ao fundo
e lá dentro
no silêncio azul
te alcanço num abraço-do-mar

no ouvido
o barulho de uma concha.

.


Em linhas geraes:
Nada de neblina ou
de mais
indústria/estrada

ponte aérea.

Ao longe
Concreto verde
Me/nos Gerais. 

é, é sim.


O novo é um broto
  • pequeno caroço em
    pé na terra dá dó
    E quando brota o
    verde reflete o sol
    Cravo os dentes nos
    frutos que dá
    gôsto e o brilho diz
    que sim, é o novo.

ver(ano)



A tantas de março
é o prazo
final
Depois disso
Que a água caiu toda
Já não se amofa
mais nada
O quente se espalha
Resta o vapor da chaleira
Herança do calor que
aquece o inverno
E não dá
dessa vez
Pra perder a estação
Vai com o trem o verão
Boto o colchão no sol
sem trégua pra secar
Tá de pé
Que te encontro por lá
Na plataforma dez
C’o convite na mão
Não te atrasa
Que o tempo passa
O sol se amansa
O céu amarela
E as folhas no chão
Meus poemas perdidos
Vão abrir o outono

Nessa brecha do ano
O corpo toma a forma
que viveu em janeiro
E antes que deságüe o choro
Desabrotôo o cabelo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

pra hoje

Cabeça à mil mas parece que vazia
Ou vaza
Pinga pinga
não é água
ideia liquidando tudo
Molhando o chão de casa
Inundando a sacada
que tive
Ali, parada
Deu pra rua, olhei por cima
Não passava nada
Nem gente, nem praça
cachorro, Nada.
Passava por baixo
a calçada esburacada.
E de um fosso tão fundo
Só mesmo o desgosto
de um tosco desmundo
Mundar o presente
Para o esgoto imundo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ao Norte

o Maranhão alaga suas dunas
abre a porta no sorriso do povo
Mas tem um dono só
E o seu carcará avôa
Na restinga e na caatinga
Mora no pau-a-pique
Obedece os casarões, mas não gosta.

É sua história abandonada em ruínas,
mas viva, nunca esquecida.
Azul.
Brancos lençóis que embalam
o sono de tanta memória.
O Maranhão é braço aberto
e bala na agulha.