segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Inaê

A poesia
é uma menina de cinco anos
me chamando aos prantos
sempre que pego no sono
Acordo assustada
"O que foi, o que é..."
E ela sorri, saltita ao longe
suas pernas magrelas
seu vestido amarelo
Descabela a noite vazia
E me bota de pé
Só pra fazer companhia.

furta a cor

As raízes da vida
são lesmas lentas
e coloridas.

insone outubro

Do retiro do sono
me retiro
Praticante insensata do sonho acordado.
Se os olhos de fecham
É lá dentro mesmo
que acontece a confusão
Mas se for a voz da dúvida
                               da dívida
                               da vida
                               da decisão
resolve falar noite adentro
Junto os meus na sala
pra tecer canção.
Compor o tempo da falta de sono
(da falta de quase tudo)
Cantar bem alto
Destrambelhar a madrugada
Ensaiando o dia
em que a viola há de ser
a insônia de quase todos
E os meus serão uma praça
e as ruas e os cantos
Mas mesmo aí
depois de tanto cansaço
Não haverá o sono dos justos
Que de tanta vida
Não se dorme em outubro.

sereia

Fiquei de costas
e o pescador
cortou em postas.

.

Um haicaí da cama
quando a noite não é sono
a poesia se inflama.

planeta picasso

"Tio Malgalido, tá tudo queblado!"
viu do alto do colo
Este mundo quadrado.

tropiquarto

O desenho das paredes
na sombra da janela
quer esticar minha rede.

cabeça de côco

No chapeleiro
junto à poeira
descansam as ideias.

através

Na noite neblina
na cama uma fina
camada de mim.

próxima

Nossa, se digo!
a última escolha
já está em perigo.

no trumpete

Em um suspiro compor
Lá de dentro abrir
Minhas frestas de amor
E de noites de festas
que eu nao sei cantar...atoa
Se o grito ventila
Soa a vida que se tem
Vem dizer o que nao tem...
Eu respiro fundo, profundo
Deixo o ar entrar, até o fim
Pra depois soprar
Devagar
Lento ar quente
Pra fora o calor do que eu sou
Virar som.