quinta-feira, 21 de março de 2013

o bebedouro

O desalento de ser só
Bebe água na beira da fonte abandonada
Não há piedade para a cervical do amor
Há de ser corcunda e velha ao final da vida
Em volta da fonte enquanto bebe sossegado
Pululam uns bichos que ninguém conhece
E nomeamos de insetos o desconhecido
Dentro mesmo do tutano de cada vértebra
O calor ardido vive os passos do corpo
Queima a carne apegada que preteja
O amor é preto
Do lado de fora e distante
Somente olhar seu desenho é deleitar uma dança
Quem assiste o movimento da pluma no palco
Não sabe da calamidade dos pés da bailarina
Que beleza! Que suavidade!
Visto de longe os quadros não tem suor
São sustentados na parede por um só prego
E a carne que envolve a vida é crua.

quarta-feira, 20 de março de 2013

carta de amor

Atentei às suas dores em meio ao dia
Sufoca a garganta o uivo de um vento frio
Assopre quente o corredor de seus ruídos
O que é pequeno é pequeno
O que é grande não pode ser visto tôdo
Olhe de perto o que é pequeno
e sorria com sua singeleza
Dê um rolê bem grande para conhecer
o que não cabe inteiro em seus olhos
Te recebo em meu peito em uma tarde fria
Duas
Três.
Mas a vida é todo dia.

segunda-feira, 4 de março de 2013

sambrasa

de noite calado
o último ruído
é o suspiro do cigarro.

passeio pela muralha

osso
beijo
pele
abraço
carne
gesto
aonde vai o resto?

(fique com o resto
do que ainda em-presto)

Ei!
é só o que peço
um adeus honesto.

Mão
adeus.