sempre que quiser escreva
a ponta do teu lápis
na ponta da minha língua
mesmo que você se esqueça
me anote num lugar qualquer
que desapareça
os papéis dos meses passados
lista de compras
bilhetes velhos de cinema
números de telefone
ticket de supermercado
eu não vou deixar recado
mesmo que você atenda
mesmo que você atenda.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Vez ou outra me roubam
um pedaço do couro
e usam de cesto
para trazer fios
que serão nós de poemas
Eu sinto um frio
É o que me faz vivo
Deste carretel
um dicionário a céu aberto
sendo a linha de costura
a bala na agulha
de um poema honesto
Não há palavras
para medir o mistério
de saber-se a si
de aprender o outro
Tampouco muito ou pouco
Não vende em pó
Não está de pé
Eu carrego na costura
da bolsa volumosa
de minhas pálpebras
de onde brotam as melhores histórias
em forma de flechas e lama
Os presentes e os convites
Os desejos e os adeuses
Um momento
Afinal, cada história
é (também) um momento.
um pedaço do couro
e usam de cesto
para trazer fios
que serão nós de poemas
Eu sinto um frio
É o que me faz vivo
Deste carretel
um dicionário a céu aberto
sendo a linha de costura
a bala na agulha
de um poema honesto
Não há palavras
para medir o mistério
de saber-se a si
de aprender o outro
Tampouco muito ou pouco
Não vende em pó
Não está de pé
Eu carrego na costura
da bolsa volumosa
de minhas pálpebras
de onde brotam as melhores histórias
em forma de flechas e lama
Os presentes e os convites
Os desejos e os adeuses
Um momento
Afinal, cada história
é (também) um momento.
do interior
deitados na cama de cana
espiam a plantação de algodão
teriam feito mudas de feijão?
como daquelas que se faz na escola...
as mãos amarradas sabem como subiu
cada pé do deserto verde
quem terá plantado
algodoado tão alto
o céu azul?
espiam a plantação de algodão
teriam feito mudas de feijão?
como daquelas que se faz na escola...
as mãos amarradas sabem como subiu
cada pé do deserto verde
quem terá plantado
algodoado tão alto
o céu azul?
o silêncio é uma caixa inquieta
que guarda toda possibilidade
não fala não late
incomoda mais que coceira
o silêncio é uma meditação verdadeira
mas não vejo porque
a não ser quando me meto no meio do mato
a ouvir o ruído que o mundo faz
para calar tudo aquilo que aqui há
eu abro a caixa
e ela solta o ar
shhhhhhhhhhhhh.
que guarda toda possibilidade
não fala não late
incomoda mais que coceira
o silêncio é uma meditação verdadeira
mas não vejo porque
a não ser quando me meto no meio do mato
a ouvir o ruído que o mundo faz
para calar tudo aquilo que aqui há
eu abro a caixa
e ela solta o ar
shhhhhhhhhhhhh.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
A pedrada
Na ignorância de
no caminho
catar do chão as pedras
para lá adiante trilhar o caminho
e caminhando rápido
para juntar mais pedras
chegar tão longe
sem olhar as caras
se ouvir os assobios
(nem mesmo assobiar)
ou sem nem dizer alô.
Com o peso mórbido
de um saco nas costas
Pedra por pedra
erguer um castelo
e se guardar na torre
Do alto ver
quantos foram se perdendo
no percurso
O que caiu o queixo
diante do sol nascente
e nunca mais se levantou
O que amou perdido
perdeu até os dentes
quando o amor passou
Os pequeninos
vidrados no homem
de saco nas costas
cresceram o tempo
e fizeram pedreira
Mas chegar ao fim
Da janela da torre
ver ao longe
ter erguido um castelo
no final do caminho.
no caminho
catar do chão as pedras
para lá adiante trilhar o caminho
e caminhando rápido
para juntar mais pedras
chegar tão longe
sem olhar as caras
se ouvir os assobios
(nem mesmo assobiar)
ou sem nem dizer alô.
Com o peso mórbido
de um saco nas costas
Pedra por pedra
erguer um castelo
e se guardar na torre
Do alto ver
quantos foram se perdendo
no percurso
O que caiu o queixo
diante do sol nascente
e nunca mais se levantou
O que amou perdido
perdeu até os dentes
quando o amor passou
Os pequeninos
vidrados no homem
de saco nas costas
cresceram o tempo
e fizeram pedreira
Mas chegar ao fim
Da janela da torre
ver ao longe
ter erguido um castelo
no final do caminho.
Pensa que não?
Fiz o cronograma
Trabalhei dia e noite
Desenhei planilha
Planejei os gastos
Dei comida aos gatos
Limpei a casa
Fiquei limpa
Botei tudo na tabela
Mas agora é madrugada...
E o meu adulto é brocha.
A minha criança é sagitário
com lua em câncer
ascendente em gêmeos
e vênus em escorpião
Tá lá fora
Brincando pelada
Andando descalsa
Cantando na roda.
Fiz o cronograma
Trabalhei dia e noite
Desenhei planilha
Planejei os gastos
Dei comida aos gatos
Limpei a casa
Fiquei limpa
Botei tudo na tabela
Mas agora é madrugada...
E o meu adulto é brocha.
A minha criança é sagitário
com lua em câncer
ascendente em gêmeos
e vênus em escorpião
Tá lá fora
Brincando pelada
Andando descalsa
Cantando na roda.
Viajar na velocidade da luz
dos faróis do ônibus
O pisca que faz na cara
os riscos no chão da estrada
Arriscar tudo
quando não há nada
No escuro
o céu cintilante
No escuro
As árvores e seus corpos lentos
empolando a paisagem
Esse ar gelado
coagula o meu sono
seca a garganta e os lábios
que cantam mudos
o som que toca nos fones.
dos faróis do ônibus
O pisca que faz na cara
os riscos no chão da estrada
Arriscar tudo
quando não há nada
No escuro
o céu cintilante
No escuro
As árvores e seus corpos lentos
empolando a paisagem
Esse ar gelado
coagula o meu sono
seca a garganta e os lábios
que cantam mudos
o som que toca nos fones.
No balcão
um misto
(de) frio e quente
presunto e gente
um copo só
Riscar com a unha
o papel que forra
a mesa
e lá no fundo
perto do banheiro escuro
uma japonesa
ou coreana
ou chinesa
essas coisas
de mundo tôdo
num lugar só.
À espreita
do palpite do garçom
sobre o Palmeiras
mesmo já sabendo
a opinião
A bem da verdade
pensar que se está
o tempo todo
sendo observado
por isso olhar de lado
por isso andar sempre com o fone
que é pra ter trilha sonora
A bem da verdade
uma vontade enorme
de pedir um copo pra você.
um misto
(de) frio e quente
presunto e gente
um copo só
Riscar com a unha
o papel que forra
a mesa
e lá no fundo
perto do banheiro escuro
uma japonesa
ou coreana
ou chinesa
essas coisas
de mundo tôdo
num lugar só.
À espreita
do palpite do garçom
sobre o Palmeiras
mesmo já sabendo
a opinião
A bem da verdade
pensar que se está
o tempo todo
sendo observado
por isso olhar de lado
por isso andar sempre com o fone
que é pra ter trilha sonora
A bem da verdade
uma vontade enorme
de pedir um copo pra você.
Quando de longe vindo
cheguei ao centro
de seu coração, amor
não era um rebento
Dia de verão
m'abraçou com os braços
e ancas
d'uma árvore frondosa
Tinha sombra
eu tinha sede
Mergulhei disposta
A língua na aposta
da fruta boa e da fruta podre
(privilégio da estação)
Não podia eu
com os pés calejados
de tanto chão batido
querer semente de feijão
ainda algodoada
Em sua fronte larga
Eu trazia o desejo de toda semente plantada
E debaixo de sua sombra
não só cabia o meu alento
mas cada passarinho
estrela cadente
mariposa
ou mesmo gente
Um só pedaço de terra
não pode ser estrada
a esculpir os meus calos
Tampouco minha rede estendida
é capaz de ser embalo
para todos os seus outonos
O peito roçado
ontem, hoje, amanhã
quer um saco de sementes.
cheguei ao centro
de seu coração, amor
não era um rebento
Dia de verão
m'abraçou com os braços
e ancas
d'uma árvore frondosa
Tinha sombra
eu tinha sede
Mergulhei disposta
A língua na aposta
da fruta boa e da fruta podre
(privilégio da estação)
Não podia eu
com os pés calejados
de tanto chão batido
querer semente de feijão
ainda algodoada
Em sua fronte larga
Eu trazia o desejo de toda semente plantada
E debaixo de sua sombra
não só cabia o meu alento
mas cada passarinho
estrela cadente
mariposa
ou mesmo gente
Um só pedaço de terra
não pode ser estrada
a esculpir os meus calos
Tampouco minha rede estendida
é capaz de ser embalo
para todos os seus outonos
O peito roçado
ontem, hoje, amanhã
quer um saco de sementes.
pequeno poema para enquanto você dorme
cuspi um chuvisco
de improviso
pra tua grama
amanhecer de orvalho
de noite
sempre invento um jeito
de perder o horário
e olho a fio o teu sono
esticado no galho.
de improviso
pra tua grama
amanhecer de orvalho
de noite
sempre invento um jeito
de perder o horário
e olho a fio o teu sono
esticado no galho.
Há cinquenta anos
sentada nessa calçada
vejo a cena, o trabalho, essa gente cansada
O que foi mesmo construído
pelas nossas mãos?
Os sonhos, as casas, bairros, escolas
do patrão
Que no sorriso nos dizem
na televisão
Quanto os números aumentam
e aqui não chegam não
O meu filho se sujou
com dinheiro nas mãos
Aquela fome, a propaganda
que era possível ser
alguém na vida, erguendo os muros
que iam lhe conter
Ontem de noite
em frente à porta
um homem armado gritou
e a vizinhança acorda
Pega o que deve
e a lei escreve o teu perdão
Mas como pode, tendo feito tudo
ainda dever?
Pela manhã, três jovens policiais
miravam minhas rugas, pediam minha morte
Saí despejada, sob a luz de um flash
O meu único chão era a bengala.
Para a voz de Carmen, 83 anos, despejada na Espanha pelos poderosos da casa onde viveu durante 50 anos.
sentada nessa calçada
vejo a cena, o trabalho, essa gente cansada
O que foi mesmo construído
pelas nossas mãos?
Os sonhos, as casas, bairros, escolas
do patrão
Que no sorriso nos dizem
na televisão
Quanto os números aumentam
e aqui não chegam não
O meu filho se sujou
com dinheiro nas mãos
Aquela fome, a propaganda
que era possível ser
alguém na vida, erguendo os muros
que iam lhe conter
Ontem de noite
em frente à porta
um homem armado gritou
e a vizinhança acorda
Pega o que deve
e a lei escreve o teu perdão
Mas como pode, tendo feito tudo
ainda dever?
Pela manhã, três jovens policiais
miravam minhas rugas, pediam minha morte
Saí despejada, sob a luz de um flash
O meu único chão era a bengala.
Para a voz de Carmen, 83 anos, despejada na Espanha pelos poderosos da casa onde viveu durante 50 anos.
Do tamanho
Para ter um corpo ciliado
que fosse penteado
pelo caminho desse rio
Poder ser movimento
e criar lodo
porque dançando parado
Diante do gigante
ser aquele lugar
para onde ninguém vai olhar
e sê-lo tranquilo
pequeno e constante
casa de peixe
piscina de formiga
pedaço do mundo.
que fosse penteado
pelo caminho desse rio
Poder ser movimento
e criar lodo
porque dançando parado
Diante do gigante
ser aquele lugar
para onde ninguém vai olhar
e sê-lo tranquilo
pequeno e constante
casa de peixe
piscina de formiga
pedaço do mundo.
Ser insone
é velar o sono de todos
e não ser visto babando por ninguém
Na calada
o estrondoso ronco do vizinho
o sexo gostoso do 203
E mesmo com a janela
para um corredor de prédio
ouvir os carros ventando a rua
Tem galo cantando no morro
agora canta fora de hora
Até os gatos, noturnos
adormeceram, menos eu
É quando penso
em começar a estudar francês
a pintar o nome dos temperos
nos vidros da cozinha
A comer tapioca
A ver um filme sozinha
A mudar de área
A tomar um ar.
é velar o sono de todos
e não ser visto babando por ninguém
Na calada
o estrondoso ronco do vizinho
o sexo gostoso do 203
E mesmo com a janela
para um corredor de prédio
ouvir os carros ventando a rua
Tem galo cantando no morro
agora canta fora de hora
Até os gatos, noturnos
adormeceram, menos eu
É quando penso
em começar a estudar francês
a pintar o nome dos temperos
nos vidros da cozinha
A comer tapioca
A ver um filme sozinha
A mudar de área
A tomar um ar.
correspondência 2
sempre que quiser escreva
a ponta do teu lápis
na ponta da minha língua
mesmo que você se esqueça
me anote num lugar qualquer
que desapareça
os papéis dos meses passados
lista de compras
bilhetes velhos de cinema
números de telefone
ticket de supermercado
eu não vou deixar recado
mesmo que você atenda
mesmo que você atenda.
a ponta do teu lápis
na ponta da minha língua
mesmo que você se esqueça
me anote num lugar qualquer
que desapareça
os papéis dos meses passados
lista de compras
bilhetes velhos de cinema
números de telefone
ticket de supermercado
eu não vou deixar recado
mesmo que você atenda
mesmo que você atenda.
Assinar:
Postagens (Atom)