quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Há cinquenta anos
sentada nessa calçada
vejo a cena, o trabalho, essa gente cansada
O que foi mesmo construído
pelas nossas mãos?
Os sonhos, as casas, bairros, escolas
do patrão
Que no sorriso nos dizem
na televisão
Quanto os números aumentam
e aqui não chegam não
O meu filho se sujou
com dinheiro nas mãos
Aquela fome, a propaganda
que era possível ser
alguém na vida, erguendo os muros
que iam lhe conter
Ontem de noite
em frente à porta
um homem armado gritou
e a vizinhança acorda
Pega o que deve
e a lei escreve o teu perdão
Mas como pode, tendo feito tudo
ainda dever?
Pela manhã, três jovens policiais
miravam minhas rugas, pediam minha morte
Saí despejada, sob a luz de um flash
O meu único chão era a bengala.

Para a voz de Carmen, 83 anos, despejada na Espanha pelos poderosos da casa onde viveu durante 50 anos.


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