o presente num laço
uma caixa-surpresa
laços lacônicos
presentes irônicos
caixas sapatilhas
brinquedos comidas
o dia é a embalagem
que vai ao lixo
sendo o lixo
o esquecimento do amanhoje
a lata
a prata
qualquer sacola ingrata
cabe mais que a máxima
que será a vida
além da gasta ideia
do hoje como sucata?
ímpeto louco iconoclasta
arruaça de hoje
que amanhã arrasta
debaixo da vassoura
do gari
da mãe
do louco varrido
a poeira de ser
menos pouco
menos roto
nosso alvorecer
mais alvorado
alvoroçado
vermelho sem ser de vergonha
bandeiras panos de chão
partidos ao meio sim
despartilhados não
hastearemos em cabos de vassoura
estandartes de revolução
soprar com um furacão
o cinza da cidade limpa
respirar um bocado
um túnel dentro
de acesso aos sonhos
no mar nadam meninos
na avenida lutam soldados
marcham de dia
pela boa vida
dançam de noite
quão boa ela pode ser
sambam blocos
blocos negros
de laranja entardecem carnavalescos
fantasiados violentos
blocos anti-soldados
mirando num só tiro
o erro que acerta as contas
atravessa certeiro
o relógio central
que marca as horas
do sofrimento e da fumaça
da saída e da desgraça
de voltar pra casa
e do tranco na praça
lembra a hora da morte
e que falta-nos sorte
cansado olho baixo
trem lotado, se reconhece
no cansaço do homem
apertado ao lado
adormece e esquece
do preço de seu trabalho
quando vai dormir
desaquece a fome
esfria o sol da janela
grita lá dentro pra ela
deixar o dia e vir deitar
e não dá
com criança
sem comida
roupa suja
pra lavar
os olhos fecham
mesmo sem tempo
mas por dentro
nem mesmo o sol pode dormir.
Curitiba/Rio de Janeiro, poema com Adriano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário